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Resumo: O rápido crescimento de projetos-piloto de semanas de trabalho de 4 dias em várias empresas de diferentes países tem suscitado uma atenção considerável a nível internacional. Apesar de terem sido propostas há mais de meio século, as semanas de trabalho mais curtas, particularmente com 30-32 horas de trabalho, têm recebido muita atenção na sequência da COVID-19 e das crescentes dificuldades na contratação e retenção de trabalhadores. Académicos, partidos políticos e grupos de reflexão têm-se interessado cada vez mais por este debate, o que se reflete numa ampla cobertura mediática, num número crescente de projetos pilotos e em novas publicações científicas.
A redução para 4 dias de trabalho surge associado a diferentes argumentos a favor e contra. Por um lado, há quem defenda que se trata de uma prática que pode ser utilizada para promover melhorias na produtividade e performance dos trabalhadores, e com potencial para responder a alguns dos desafios contemporâneos existentes, desde a inovação e desenvolvimento tecnológico, as desigualdades de género aos problemas de saúde e bem-estar dos trabalhadores. Fora do âmbito da esfera laboral, são ainda referidos benefícios a nível ambiental, devido à diminuição das deslocações para o trabalho e do uso de energia nas organizações. Por outro lado, apontam-se problemas associados à intensificação do trabalho, que pode acarretar prejuízos em termos de produtividade e stress com o trabalho, e diminuição das oportunidades de inovação, por via da redução da interação entre os trabalhadores e também dificuldades da própria implementação. Neste sentido, é importante ter na devida atenção que a semana de quatro dias pode não resultar igualmente para todas as empresas ou todos os setores, quer pelas operações e atividades que as compõem, quer pelas dinâmicas do ambiente empresarial e as perceções que se constroem em torno do tema.
Este projeto tem como objetivo principal analisar o processo de implementação e os efeitos da semana de 4 dias em empresas em Portugal, com recurso a metodologia de estudos de caso. Este objetivo desdobra-se nos seguintes objetivos específicos: (i) realizar estudos de caso exploratórios das empresas que participaram no projeto-piloto português (junho - dezembro 2023); (ii) conduzir estudos de caso longitudinais das empresas que optaram por continuar com tal processo (17). Para atingir o objetivo específico (i) é fundamental partir dos conhecimentos e competências dos dois membros da equipa de investigação que coordenam o projeto-piloto português e se encontram a realizar a análise quantitativa sobre os efeitos obtidos no grupo experimental das 21 empresas, comparando-os com os resultados de um grupo de controlo constituído por 14 empresas que decidiram não testar a semana de 4 dias, a partir de inquéritos por questionários aplicados (Gomes & Fontinha, 2023). Estes questionários foram desenvolvidos por uma equipa de investigação em Boston College para o uso em projetos-pilotos da 4 Day Week Global, e foram devidamente traduzidos, adaptados e validados para a realidade portuguesa. A equipa da presente proposta por sua vez conduzirá o estudo qualitativo, que se centra em estudos de caso exploratórios das 21 empresas participantes do projeto-piloto. As entrevistas às administrações e aos trabalhadores seguirão de perto os inquéritos por questionários aplicados aos 12 meses das projeto-piloto, com o objetivo de explorar a informação quantitativa recolhida nesses questionários (construídos essencialmente por questões de natureza fechada). Também está prevista a recolha de informação documental produzida pelas empresas no âmbito da preparação, implementação e avaliação do projeto-piloto. Os resultados apurados nos estudos exploratórios serão decisivos para suportar a condução dos estudos de caso longitudinais (objetivo especifico (ii)). Nestes estudos de caso longitudinais, está prevista a aplicação de um inquérito por questionário em cada empresa (num total de 17), no final de 12 meses de aplicação da medida, partindo dos inquéritos por questionários aplicados durante o piloto, e com as necessárias adaptações. Prevê-se igualmente a aplicação de entrevistas que seguirão de perto os guiões das entrevistas conduzidas no âmbito dos estudos de caso exploratórios de modo a concretizar a dimensão inovadora deste projeto relacionada com a captação das tendências e mudanças ocorridas ao longo do tempo nas empresas com a semana de trabalho de 4 dias, algo que não tem sido realizado nas investigações científicas sobre o tema.
Com vista a concretizar estes objetivos são fundamentais os conhecimentos e competências da equipa com vasta experiência na metodologia de estudos de caso. Por outro lado, os membros da equipa com experiência em métodos quantitativos tornam possível a implementação de mixed methods ao triangular a análise interpretativa com a medição dos fenómenos observados nas empresas. Espera-se produzir uma análise qualitativa e quantitativa sobre se os resultados positivos, negativos e neutros desta medida perduram ou desaparecem ao longo do tempo, como e em que moldes, de modo a retirar ensinamentos para construir recomendações sobre a implementação desta medida em empresas e organizações de diferentes setores de atividaae económica.
Beneficiadores finais/população-alvo: Organizações, trabalhadores/as, e sociedade em geral.
Cronograma: fevereiro 2025 - agosto 2026