Resumo: As transformações culturais, econômicas, políticas e sociais vivenciadas no século XX, somadas aos episódios de autoritarismo e violência, modificaram as relações estabelecidas com o passado e com o tempo, exigindo novas abordagens sobre as noções de memória, esquecimento e temporalidade. Por um lado, percebe-se que a memória se transformou em um dever, suscitando situações de abusos, de tiranias e de saturações; por outro, que a passagem do tempo pareceu estancar a partir da experiência de um presente de instantes sucessivos. Nessa conjuntura, observa-se uma discrepância de discursos e representações memoriais quanto ao componente ideológico e político: enquanto memórias e vítimas de experiências comunistas são nomeadas, existe uma ausência de reconhecimento das memórias e vítimas do capitalismo, mesmo quando se fala em vítimas dos fascismos. A problemática desta pesquisa, portanto, diz respeito ao estudo sobre as condições de produção de memórias do capitalismo e de nomeação de suas vítimas, mediante uma compreensão ampliada do capitalismo como uma razão cuja normatividade foi estendida a todas as dimensões da vida, afetando a relação com o passado e com o tempo. O projeto divide-se em quatro eixos temáticos: 1) Memórias do escravismo moderno e contemporâneo; 2) Memórias dos colonialismos e imperialismos; 3) Neoliberalismo e capitaloceno; e 4) O capitalismo e sua monumentalização. As hipóteses que amparam a investigação consideram que as tendências do capitalismo à abstração, aceleração e naturalização fomentam sua invisibilização como produtor de desigualdades, hierarquias e violações de direitos humanos. Essas tendências também contribuem para a destemporalização do sistema, que, por sua vez, resultam em uma memória do capitalismo como ausência. A pesquisa conciliará análises de casos específicos em cada um dos eixos temáticos, reinterpretando certos eventos como expressões de memórias do capitalismo em relação com a própria história do sistema.

Cronograma: novemmbro 2023 - novembro 2026

Equipa de investigação: Caroline Silveira Bauer (coordenadora); Caroline Pacievitch (UFRGS), Fernando Nicolazzi (UFRGS), Melina Perussatto (UFRGS), Odilon Caldeira Neto (UFJF), Pedro Caldas (UNIRIO), Rodrigo Turin (UNIRIO) e Silvia Correa (FLUP)