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Resumo: A geografia dos 50 anos do 25 de abril é simultaneamente um projeto de investigação, de divulgação da cultura científica e de intervenção social e pedagógica. Ao nível da investigação, o projeto compromete-se a explorar as geografias variáveis que emergem das dinâmicas socioeconómicas e sociopolíticas territorialmente desiguais que ocorreram ao longo destes 50 anos. Pretende-se evidenciar o quanto o país mudou, apresentando o mosaico territorial diversificado que daí emerge e não ignorando que, possivelmente, nem todos os territórios mudaram no sentido desejado. É uma investigação com dupla intencionalidade: de memorial e de reflexão sobre o presente e o futuro do país democrático inaugurado com o 25 de abril de 1974. Daí que a construção da narrativa se enraíze em conceitos seminais, oriundos da geografia radical, como justiça social e espacial, na tradição de Harvey e Soja, e explora as geografias do descontentamento e dos territórios aprisionados na armadilha do desenvolvimento intermédio. Serão identificadas 50 dinâmicas sociais, económicas e políticas, que serão analisadas e representadas para produzir sínteses cartográficas à escala local e regional, que façam emergir a diversidade de matrizes de mudanças. Seguramente surgirão territórios ganhadores e territórios perdedores, cujo confronto pode contribuir em termos eleitorais para a “vingança” dos lugares. A emergência de movimentos políticos neopopulistas encontram oportunidades para germinar em geografias variáveis de descontentamento. Conceber políticas de base territorial que potenciem os recursos endógenos dos lugares, aproveitando as atuais tendências de transição (energética, verde, digital, etc.) é uma via de inclusão e coesão territorial a explorar.
Ao nível da divulgação da cultura científica é importante disseminar a geografia variável das mudanças que ocorreram no nosso território ao longo dos últimos 50 anos. É imprescindível reforçar a divulgação de informação credível para mostrar a dimensão e a qualidade das dinâmicas positivas. Mas é igualmente importante que a consciência coletiva reflita os esquecimentos persistentes. A divulgação de informação verdadeira, transmitida com códigos entendíveis pela generalidade da população, permite combater os neopopulismos. Estes alimentam-se frequentemente de preconceitos e notícias falsas. Assim, refletir sobre as nossas memórias capacita-nos para os atuais e futuros desafios da coesão económica, social, cultural, política e cívica. A coesão não pode ser só um desígnio político, deve ser sobretudo uma ambição socialmente desejada. Daí o projeto reservar um espaço importante ao processo de disseminação na comunicação social do conhecimento construído a partir dos métodos científicos desenvolvidos no âmbito do projeto. É uma forma de empoderar a sociedade e, deste modo, combater preconceitos e notícias falsas. Ao nível da intervenção sociopedagógica, com base nos mapas elaborados sobre as dinâmicas socioeconómicas e sociopolíticas, o projeto propõe-se a desenvolver vários Kit-Escolas, estruturados segundo metodologias ativas centradas nos alunos, direcionados ao 3º ciclo do ensino básico e ao ensino secundário. A partir destes Kit-Escolas pretende-se implementar um processo de intervenção sociopedagógica nas escolas de diferentes regiões, procurando abarcar a diversidade de contextos territoriais, sociais, culturais e étnicos. O propósito é promover aprendizagens significativas em que os estudantes assumem o direito de, a partir das leituras dos cartogramas fornecidos, realizarem as suas próprias representações das dinâmicas ocorridas nas diferentes temáticas analisadas neste projeto. Por um lado, pretende-se estimular e aprofundar competências essenciais em torno da análise e interpretação de informação e conhecimento oriundos de fontes credíveis e, por esta via, sensibilizar os estudantes para a utilização de informação e conhecimento fiável e assim contribuir para combater o risco de acreditar em notícias falsas. Por outro lado, proporcionar a oportunidade para que os alunos se apropriem das dinâmicas ocorridas ao longo destes 50 anos, através de estratégias criativas de reinterpretação e criação de novas formas de representação do conhecimento, dando voz aos jovens e diversificando as leituras e as suas capacidades criativas e de visão através da operacionalização de um laboratório de criatividade juvenil. Em síntese, este é um projeto que foi desenhado com o intuito de contribuir ativamente para cumprir os objetivos do 25 de abril, refletindo o passado, para construir o futuro. Possibilita o acesso à informação e ao conhecimento sobre as dinâmicas dos últimos 50 anos, empodera as pessoas a partir do desenvolvimento de experiências educativas significativas e constrói pontes de aprendizagem inter-geracionais.
Beneficiadores finais/população-alvo: Escolas secundárias; Associações de Municípios e Comissões de Coordenação Regional; Autarquias locais do Norte de Portugal.
Cronograma: Novembro 2024 - Novembro 2025
Equipa: Teresa Sá Marques (Investigadora responsável), Catarina Maia, Ana Isabel Martins, Diogo Ribeiro, Fátima Matos, Gonçalo Santinha, Hélder Santos, Isabel Cristina Martins, João Queirós, Jorge Malheiros, Margarida Queirós, Mário Vale, Miguel Saraiva, Paula Guerra.